Crítica de Tudo em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo
O filme do ano sobre o Multiverso!
Há dois sentimentos que movem o ser humano: o amor e o ódio.
Talvez isso soe de uma forma reducionista, mas as principais motivações que temos para tomar decisões estão sempre baseadas em um desses dois sentimentos.
Curiosamente, o significado de cada um deles evolui conforme vivemos.
Enquanto somos jovens, definir o que é amor e o que é ódio não é uma tarefa complicada. Você ama aquilo que te faz bem e odeia tudo o que te faz mal.
É algo tão simples quanto a fala de um garoto ao se referir ao seu novo brinquedo dos Vingadores: “é o melhor boneco do mundo”.
Tudo é potencializado, e as relações que você constrói nesse período têm um impacto significativo ao longo da sua vida.
Nesse processo de evolução e amadurecimento, buscamos a aceitação daqueles que amamos.
Queremos (e tentamos), à todo custo, construir a melhor relação possível, para ficarmos fortes e enfrentarmos a vida, sabendo que as pessoas que nos amam estão ao nosso lado.
Mas nem sempre conquistamos isso, e é aí que o amor se transforma em ressentimento.
Nossa personalidade e nosso caráter são moldados pelas relações que temos com os nossos pais, principalmente quando estamos nos tornando adultos.
Ser aceito por quem você é, nessa fase, é o que há de mais importante para definir quem você será no futuro. E todas as suas escolhas, como sair de casa ao completar 18 anos, por exemplo, são baseadas em como você se sente em relação aos seus pais.
Voltando ao espectro do amor e do ódio, cada escolha que você toma, a partir de então, é uma tentativa de lutar por sua felicidade, por uma vida melhor em um contexto onde você se sente aceito e acolhido por ser quem você é.
E aqui, alguns cenários são possíveis: ou você consegue ser feliz e aceito, ou você não encontra a felicidade e aceita que terá uma vida imperfeita, com breves momentos de genuína felicidade, ou você escolhe abrir mão do sofrimento (e da própria vida).
Fui simplista nas opções, confesso.
Tudo em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo potencializa essas opções ao propor o contexto do Multiverso, onde cada escolha implica em uma renúncia, que se transforma em um universo de infinitas possibilidades e realidades alternativas coexistindo ao mesmo tempo entre uma mãe, uma filha, um marido fiel e um avô rancoroso.
Em um universo de infinitas possibilidades, o que é constante?
Como definir o que é real quando você tem múltiplas realidades?
Essas questões são traduzidas pelo filme através da lógica de amor e ódio, sentimentos conflitantes que estão presentes na relação entre os personagens.
Evelyn (Michelle Yeoh) é uma mãe que tenta administrar (sem sucesso) os rumos do negócio da família, enquanto cuida do pai (James Hong) e lida com a filha lésbica (Stephanie Hsu) e o marido passivo (Ke Huy Quan).
Waymond (Ke Huy Wuan) tenta ser a pessoa mais compreensiva do mundo, sempre disposto a fazer de tudo por sua família, ainda que não saiba exatamente o que está fazendo, nem como pode ajudar.
Joy (Stephanie Hsu) é uma adolescente que vive um relacionamento lésbico, que não agrade nem um pouco a sua mãe, que se recusa a aceitar a filha enquanto pessoa LGBTQIA+.
Gong Gong é um senhor já no fim da vida, cuja condição só não é degradante por conta dos cuidados da filha dedicada, que não abre mão de deixar tudo do jeito que ele gosta.
Essas quatro pessoas se relacionam no filme e são interligadas por sentimentos que transitam no espectro do amor e do ódio o tempo todo.
Enquanto Joy quer ser aceita pela família, Evelyn carrega o peso de não ter sido aceita pelo seu pai quando decidiu se casar com Waymond e sair de casa.
Por sua vez, Gong Gong carrega o peso da culpa de não ter dito que a filha poderia ficar ao seu lado, enquanto Waymond busca a felicidade em um relacionamento que está destinado ao fracasso.
Esse cenário, que por si só já é complexo e repleto de possibilidades, é intensificado quando Evelyn descobre que há um multiverso ao seu redor, e que ela precisa deter uma vilã interdimensional que põe a vida de todos em risco.
Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo é o filme sobre o Multiverso que a Marvel gostaria de fazer, mas não teve a coragem para tanto.
Uma obra que vai além do simples em termos visuais, mas que promove uma reflexão diante das escolhas que fazemos ao longo das nossas vidas, bem como a maneira que tratamos as pessoas ao nosso redor. Por mais difícil que seja a sua vida, lembre-se de ser gentil, sempre.
FICHA TÉCNICA
Tudo em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo
Título Original: Everything Everywhere All At Once
Duração: 2h19min (139 min)
Direção: Daniel Kwan e Daniel Scheinert
Estrelando: Michelle Yeoh, Stephanie Hsu, Ke Huy Quan, Jamie Lee Curtis, James Hong e outros.
Lançamento Nacional: 23 de junho de 2022
NOTA: 10/10
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