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Resenha do Filme Nomadland (2020) – Maratona Oscar 2021

Eu te vejo pelo caminho

A música Home is a Question Mark é uma das músicas de destaque do cantor Morrissey, ex-vocalista da banda The Smiths, que sempre foi uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos.

Nessa canção, em especial, a frase “lar é só uma palavra ou é algo que você carrega dentro de você” se destaca pelo impacto da reflexão que provoca em quem escuta.

E a pergunta que fica, nesse começo, é a seguinte: o que é o lar para você?

Muitas vezes, não nos sentimos bem na nossa própria casa, seja por conflitos com nossos familiares, seja pela sensação de enclausuramento ou, até mesmo, pela necessidade de conhecer o mundo.

Tem gente, por exemplo, que atribui a sua morada à uma outra pessoa (só estou em casa quando estou com você). E se pararmos para pensar, o nosso lar é o local onde nos sentimos bem, seguros e à vontade para sermos nós mesmos.

Frances McDormand em Nomadland. Foto: Reprodução

A BUSCA POR UMA VIDA NÔMADE

Em uma breve sinopse, a história de Nomadland se passa após um colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, motivar Fern (Frances McDormand), a protagonista da história, uma mulher de 60 anos, a entrar em sua van e partir para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna.

Fern, portanto, é uma nômade por livre e espontânea vontade.

Claro que há uma questão econômica em toda essa história, mas, de certa forma, ela escolheu esse estilo de vida, pois o lar é algo que está dentro dela.

Ela não precisa comprar uma casa, se endividar escolhendo móveis, nem nada disso, a sua própria existência é suficiente.

TIRANIA DO CAPITALISMO

Nomadland aborda, ainda, uma discussão sobre o capitalismo e como a sociedade moderna é refém de um estilo de vida pautado no consumo, onde a simples ideia de viver fora desse meio é algo surreal.

E o filme traz uma crítica ao retratar a Amazon como um desses polos de consumo capitalista, ao mesmo tempo que é uma das fontes de renda da protagonista, que trabalha de forma sazonal na empresa, em uma espécie de engrenagem autodepreciativa – não podemos viver sem algo que nos corrompe, então será que teremos a capacidade de nos livrar desse sistema?

Brad Pitt como Tyler Durden em Clube da Luta. Foto: Reprodução

À todo o momento, Nomadland nos faz refletir sobre a importância dos bens que nós temos e o valor que damos para eles. Em uma espécie de citação à Clube da Luta e o seu icônico personagem Tyler Durden, as coisas que você possui acabam possuindo você.

E isso serve como um ótimo contraponto na história, pois durante a construção da protagonista, acreditamos que ela realmente escolheu esse estilo de vida e que está disposta a abrir mão de tudo.

Mas, em dado momento, Dave (David Strathairn) quebra um dos pratos que Fern guardava com todo o cuidado, e vemos o seu desespero para colar pedaço por pedaço.

NOMADLAND E O PROCESSO DE LUTO

Nesse ponto, o filme traz a discussão sobre o processo de luto em nossa sociedade. Quanto tempo leva para superarmos a perda de quem amamos? Fern escolheu esse estilo de vida para fugir das dores e das perdas de entes queridos que ela sofreu. Há todo um processo de luto material e imaterial em cima da personagem, que teve que se adaptar à uma nova realidade para não sofrer.

E com isso, é preciso destacar a atuação da Frances McDormand, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz em 1997, por seu papel em Fargo e em 2018, por Três Anúncios Para um Crime.

Aqui, ela está mais contida, retraída, às vezes sua postura é até um pouco corcunda, tudo para passar a dor de uma personagem que está aprendendo a viver novamente.

Frances McDormand em Nomadland. Foto: Reprodução

VIVER EM SOCIEDADE

Como já dizia Aristóteles, somos seres gregários, feitos para viver em sociedade. E até mesmo os nômades, vivem em comunidade. Uma frase que evidencia isso, no filme, é a seguinte: “não sou uma sem-teto, sou uma sem casa”. E, de fato, se pensarmos em termos técnicos, Fern tem um teto, a sua van é a sua morada propriamente falando.

Mas, para além disso, o senso de comunidade que ela adquire ao compartilhar momentos com o grupo de nômades que ela conhece, transmite essa sensação de estar em casa.

Aqui, cabe puxar a frase do começo dessa resenha, da música do Morrissey: “lar é só uma palavra ou é algo que você carrega dentro de você?”.

O cantor, nessa estrofe, continua dizendo “estou feliz apenas por estar aqui”. E essa é a sensação que temos com o semblante de Fern, de alguém que recuperou a sua felicidade.

INDICAÇÕES AO OSCAR

Nomadland está concorrendo à seis categorias no Oscar: Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Direção, Melhor Montagem, Melhor Fotografia e Melhor Roteiro Adaptado.

Acredito que, dessa vez, a Frances não levará o prêmio de Melhor Atriz, justamente por ter uma performance mais contida em comparação às outras concorrentes. E como ela teve um prêmio em 2018, a Academia gosta de dar um descanso entre os vencedores.

Foto: Reprodução

Em se tratando da direção do filme, a Chloe Zhao consegue impor a sua marca, o que nos deixa bastante curiosos para saber como ela vai desenvolver essa sua visão autoral em Os Eternos, filme de heróis da Marvel que estreia esse ano.

Baseado no livro Nomadland Surviving America in the Twenty-First Century, da jornalista Jessica Bruder, o filme acerta ao retratar o estilo de vida nômade.

Impactante e reflexivo.

– FICHA TÉCNICA:

Nomadland (2020)

Gênero: Drama/Independente

Duração: 1h47min (107 minutos)

Direção: Chloé Zhao

Estrelando: Frances McDormand, Swankie, David Strathairn e outros.

Nota: 8,5/10

Confira a crítica em vídeo que o nosso repórter Marco Dias preparou:

Confira a maratona do Oscar 2021 n’O Triunvirato.

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