Record gera polêmica ao atacar animes como Death Note
Em ato desesperado de ressuscitar o “Pânico Satânico” a Record ataca animes e seus fãs
Não é de hoje que os fãs de animes, filmes de terror e vídeo games são vistos com maus olhos. Apesar de inúmeros estudos apontarem que não há relação entre o consumo de obras violentas e atos de crueldade na vida real, diversas matérias sensacionalistas são feitas sobre o assunto com frequência, desde a década de 1980. Agora, o Domingo Espetacular, da Rede Record, gerou polêmica e revolta nas redes sociais ao veicular uma reportagem alarmista que colocava o anime Death Note (2006) como fonte de preocupação para os pais.
A matéria reuniu todo tipo de “especialista” para apontar os possíveis riscos de crianças assistirem esse tipo de conteúdo, com tom de pânico moral em frases como:
“Infelizmente a nossa cultura vem abraçando a morte e a violência cada vez mais frequentemente. É o interesse de uma indústria que lucra bilhões com o estado do cérebro de angústia, medo, solidão e ansiedade”.
Já no site da emissora, há um artigo adicional que discute “tendências preocupantes” de jovens supostamente imitando conteúdos que assistem na televisão, que ainda cita as séries Round 6 e 13 Reasons Why, da Netflix.
Esse tipo de reportagens sensacionalistas, embasadas em ciência de procedência duvidosa e especialistas com motivações questionáveis, surgiu nos anos 80, nos Estados Unidos, algo que foi chamado de Pânico Satânico. Por lá, Dungeons & Dragons se tornou alvo de histeria coletiva, com pais conservadores apontando a suposta relação entre o RPG com ocultismo, abuso de crianças e assassinatos.
Como apontado pela reportagem do Nexo e como a geração do fim dos anos 90 e inicio dos anos 2000 bem sabem, esse fenômeno não atingiu apenas a América do Norte e eventualmente ganhou o mundo. No Brasil, jogos como Counter-Strike foram proibidos em lan houses de todo o país, enquanto animes como Yu-Gi-Oh! viraram alvo de associações com satanismo, com o jogo de cartas ganhando o apelido de “Baralho do Diabo”, algo que motivou inúmeros pais conservadores e/ou alienados a rasgarem ou atearem fogo nas cartas de seus filhos. Por conta desse histórico, a matéria da Record levantou críticas válidas e reprovação do público nas redes sociais.
No Twitter, o termo “Death Note” subiu no Trending Topics com mais de 40 mil tweets, acompanhado de “Yu-Gi-Oh”, pela lembrança da histeria do começo dos anos 2000, e também por “Tokyo Ghoul”, outro anime citado na reportagem da Record.
A grande maioria das mensagens expressa não só desdém pelo conteúdo sensacionalista que foi mostrado sem base alguma na TV aberta, como sempre ocorre, mas também preocupação pelo impacto que esse tipo de pauta desperta, efetivamente causando pânico coletivo em pais mais suscetíveis ao fervor religioso.
Death Note, que está fora do ar há mais de uma década, acompanha um jovem egocêntrico que recebe um caderno místico, capaz de matar aqueles que têm o nome escrito em suas páginas, o que dá início à uma discussão sobre poder e punitivismo.
Para quem estiver interessado em assistir ou reassistir Death Note, o anime pode ser encontrado nos catálogos da Netflix, Funimation e Crunchyroll.
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