Resenha do Filme Batman (The Batman, 2022)

Uma história definitiva do Homem-Morcego

O sonho de todo garoto é ser seu super-herói favorito. Quando criança, buscamos inspirações nas histórias que acompanhamos, nos desenhos que assistimos, em todos os ícones que gostamos e, de certa forma, queremos ser iguais àqueles personagens.

Dos super-heróis mais famosos, Batman, Superman e Mulher-Maravilha são praticamente indiscutíveis na cultura pop, sendo denominados como “A Trindade” da DC Comics.

Todas as pessoas conhecem, ao menos, a fisionomia de cada um deles, sabem identificar os traços e as características que os diferenciam. No mínimo, já relacionaram o Superman e a Mulher-Maravilha como um casal e citam o Batman como o herói que só usa preto.

Os três personagens mais famosos da DC Comics foram, notadamente representados ao longo de várias obras ao decorrer dos anos, sempre com visões autorais e de formas distintas.

O Batman, dentre eles, é certamente o com maior número de versões icônicas, sempre interpretado por nomes como Adam West, Michael Keaton, Christian Bale, Ben Affleck, George Clooney, Val Kilmer, dentre outros atores.

O nome escolhido para essa nova versão do icônico personagem dos quadrinhos é Robert Pattinson, ator marcado por Crepúsculo, mas que construiu uma sólida carreira no cinema ao longo dos anos, com filmes como Bom Comportamento (2017), Lembranças (2010), Água Para Elefantes (2011) e Cosmópolis (2012).

O projeto do novo filme do Batman é encabeçado por Matt Reeves, diretor responsável pela nova trilogia de Planeta dos Macacos (2011 – 2017). Aqui, o trabalho de construção do universo do Homem-Morcego ocorre de forma paralela ao próprio universo da DC Comics no cinema.

Assim como acontece em Coringa (2019), o filme se coloca em uma realidade distinta dos filmes de super-heróis da Warner, a saber Liga da Justiça (2017), Mulher-Maravilha (2017) e Aquaman (2018).

Gotham é uma cidade imunda, impregnada pela corrupção, pelo crime organizado e pelo tráfico de drogas. A polícia não é confiável e a única esperança que há é um vigilante mascarado e um comissário de polícia íntegro, uma dupla improvável, mas inquestionável. Jim Gordon (Jeffrey Wright) e Batman formam a famosa dupla “bom policial, mau policial”, enfrentando a criminalidade e fazendo justiça de forma paralela.

A estética da cidade é gótica, conversando com a origem do personagem nos quadrinhos, então vemos muita verticalidade no filme, com a presença de torres, arcos pontiagudos, geometrização dos espaços, vitrais e muitas gárgulas no exterior dos edifícios, criando uma atmosfera de escuridão, de um espaço impregnado pelas trevas, tal qual a própria Gotham e o próprio Batman. É um espaço hostil, que esconde segredos a serem revelados.

Bruce Wayne é um ser humano depressivo. Após perder os pais quando criança, sua vida nunca mais foi a mesma. Ele vive em completa negação, traumatizado pelas consequências de uma tragédia que o consome e o faz decidir ter uma vida de completa reparação, ainda que o seu conflito com esse estilo de vida seja evidente.

Se os cidadãos de Gotham estão viciados em uma droga chamada “gota”, Bruce Wayne está viciado em ser o Batman. Em seus dois anos trabalhando como vigilante mascarado, ele não quer voltar para a vida real.

Ao assumir a identidade secreta, de Batman, Bruce Wayne se torna “a vingança”, um ser impotente, destemido, que não tem medo de nada, nem mesmo da morte, se colocando em situações onde sua vida estaria em absoluto risco. A persona lhe concede uma força e coragem sobre-humanas.

Paul Dano interpreta o Charada, em uma versão psicopata do personagem, um homem que está mais interessado em seus enigmas do que as consequências deles. Servindo como um espelho para o próprio protagonista, o vilão se esconde atrás de uma máscara, e tem uma legião de seguidores que acompanham cegamente seu líder improvável.

Essa versão do personagem se aproxima do que o Coringa do Heath Ledger conseguiu fazer em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), por trazer um icônico símbolo de forma reimaginada e igualmente marcante.

Se o Coringa era um personagem anarquista, que só queria ver o circo pegar fogo, o Charada é um psicopata que só quer ver a cidade ir por água abaixo.

A história do filme, inclusive, está diretamente relacionada com a trajetória do personagem, que desperta um sentimento de investigação tanto em que participa dela, quanto em quem está assistindo.

Tentamos, o tempo todo, desvendar as “charadas” que o próprio longa apresenta, imergindo na atmosfera do mistério que é proposta.

O personagem, contudo, não é o único antagonista do herói presente na história, uma vez que ainda temos Oswald Cobblepot/Pinguim, interpretado pelo Colin Farrell e o Carmine Falcone, interpretado pelo John Turturro. Ambos são icônicos vilões do Batman nos quadrinhos e aqui, recebem seu destaque e reconhecimento.

O Pinguim do Colin Farrell, por sinal, merece comentários à parte, uma vez que o ator está completamente irreconhecível no papel, com uma maquiagem que o aproxima do visual do vilão nos quadrinhos, tornando-o ainda mais memorável.

Vemos a ascensão de um antagonista que, assim como o Batman, está nos seus primeiros anos no crime organizado em Gotham, estando abaixo do Falcone na hierarquia de poder da cidade.

A Zoë Kravitz dá vida a Selina Kyle/Mulher-Gato, em uma versão da personagem que transita pela anti-heroína e parceira definitiva do Homem-Morcego. Se tem alguém que pode compreender o estilo de vida do Batman, essa pessoa é a Mulher-Gato. Entregues à noite de Gotham, os dois são os opostos que se complementam, ainda que não reconheçam isso.

Selina brinca com a sua sexualidade, flertando o tempo todo com uma tensão sexual que existe entre ela e o Batman, mas que dado os impulsos reprimidos deles, nunca se concretiza.

Temos, ainda, no elenco, o Andy Serkis, que dá vida ao clássico mordomo Alfred, o único pilar de sanidade que permanece ao lado de Bruce após a morte dos pais.

Aqui, temos uma versão do personagem que ainda está aprendendo a lidar com o patrão rebelde e justiceiro, mas que, em momento algum, se opõe a ajuda-lo.

Vemos um Batman em começo de carreira como vigilante mascarado, sem o medo de cometer erros, o que proporciona excelentes cenas de ação, incluindo uma perseguição ao Pinguim em alta velocidade no Batmóvel, em uma via de tráfego intenso de veículos.

Em outro momento, o vemos saltar do topo de um edifício para fugir da polícia, testando um traje, ao que tudo indica, pela primeira vez, sem qualquer habilidade para conseguir pousar.

Matt Reeves nos faz contemplar esses momentos, movimentando a câmera junto com a ação, provocando uma sensação de completa imersão. E quando o Batman cai, se machuca, você consegue sentir todas essas dores, é algo crível. Não parece que o cenário é fictício, que se está batendo em isopor ou algo parecido.

O diretor faz outras brincadeiras com a câmera, ao utilizar, logo na primeira cena, uma perspectiva de um certo “voyeurismo”, em primeira-pessoa com um binóculo, mostrando que os segredos a serem revelados são o principal motivador da trama.

Batman é um filme que consegue retratar, em todos os planos, os mínimos detalhes que tornam o personagem em um ícone da cultura pop, dando a profundidade que sempre esteve presente nas histórias em quadrinhos e traçando um novo rumo para um personagem que, de tempos em tempos, precisa de um novo olhar.

FICHA TÉCNICA:

Título Original: The Batman (2022)

Duração: 2h 56min (176 min)

Gênero: Ação

Direção: Matt Reeves

Elenco: Robert Pattinson, Zoë Kravitz, Paul Dano, Jeffrey Wright, Colin Farrell, Andy Serkis, dentre outros.

Estreia Nacional: 03 de março de 2022.

NOTA: 10/10

Confira abaixo o trailer do filme: