Resenha do Filme “Convite Maldito” (2022)

Longa de terror tenta contar história clássica de forma diferente, mas peca no final

Sabe aquela premissa de que, se você conta todos os detalhes de um filme para quem ainda não o assistiu, a experiência dessa pessoa fica arruinada? Se a história depende de reviravoltas, isso se torna ainda pior.

Há, claro, quem defenda que os spoilers não interferem, de fato, na forma como uma pessoa assiste a um filme, já que toda visão gera uma nova perspectiva sobre a história. Mas, defendo que, em uma narrativa onde o mistério é parte fundamental da trama, não há como ter a mesma experiência sabendo exatamente qual é a verdade por trás de tudo o que está acontecendo.

Isso se intensifica quando os próprios estúdios de Hollywood, durante a divulgação dos filmes, na tentativa de vender o material e torná-lo comercialmente um sucesso, acabam revelando detalhes grandiosos da trama através dos trailers. Infelizmente, esse é o caso em Convite Maldito.

O filme conta a história de Evie (Nathalie Emmanuel), uma mulher negra que, após um teste de DNA, descobre a existência de um primo branco e rico, Oliver (Hugh Skinner), que no “entusiasmo” em conhecer a nova familiar, a convida para uma luxuosa festa de casamento de outros membros da família, no campo.

Esse convite, por si só, soa estranho, uma vez que se trata de alguém que acabou de conhecer uma prima que, até aquele momento, era “inexistente”. Mas, mesmo com essa situação, Evie aceita o convite e vai para o casamento.

Na cerimônia, ela conhece Walter (Thomas Doherty), um homem sedutor que, desde a primeira cena no filme, se demonstra encantado por Evie. A tensão sexual entre os dois é evidente, mas eles estão em um contexto que não é necessariamente acolhedor para a recém-chegada. Há uma enorme desconfiança sobre quem ela é e de onde ela veio, e todos parecem agir de maneira estranha diante de sua presença.

Há. no filme, um flerte com questões raciais, ao melhor estilo Jordan Peele em Corra! (2017), mas isso é uma mera distração para desviar o foco da temática principal que, sem spoilers, é uma narrativa fantástica.

Convite Maldito consegue reviver uma criatura fantástica, mesmo após uma década da mesma premissa sendo trabalhada inúmeras vezes na cultura pop, indo do mais pleno terror até o humor na forma de mocumentário. 

Mesmo diante de tantas possibilidades, se bem contado, sempre há espaço para novas abordagens. E o filme sabe criar uma atmosfera perfeita para desenvolver o mistério ao redor dessas criaturas fantásticas. Mas peca ao concluir a história. Com uma forte inspiração em Casamento Sangrento (2019), o filme não tem o mesmo charme, mas se revela um bom terror sobre criaturas fantásticas.

A PARTIR DAQUI HÁ SPOILERS SOBRE A TRAMA

Há um certo fascínio por histórias de vampiros na cultura pop. De Nosferatu a Crepúsculo, passando por Drácula, The Vampire Diaries e True Blood, o estereótipo sempre existiu no imaginário popular. As criaturas noturnas, que se alimentam de sangue humano e são excessivamente violentas. Nas representações mais atuais, são seres absurdamente sexuais, com a libido elevada.

Em Convite Maldito, temos a história do Conde Drácula revisitada, ou melhor, adaptada para o contexto moderno, onde o visual gótico se mescla com vestimentas extravagantes e a tensão sexual é constante.

O filme brinca com elementos do horror para criar mistério em torno das criaturas, mas quando a grande revelação acontece, ela é concluída rapidamente. Após um banquete que envolve a decapitação de uma pessoa para que os vampiros possam brindar com o seu sangue, temos um desfecho sem qualquer profundidade.

Convite Maldito teve a possibilidade de revisitar uma história clássica, mas se prende à falta de orçamento para efeitos visuais e a necessidade de lucro com a produção, pecando com uma conclusão que fica muito abaixo de toda a atmosfera criada para o longa.

FICHA TÉCNICA

Convite Maldito

Título Original: The Invitation

Duração: 104 min (1h 44min)

Direção: Jessica M. Thompson

Estrelando: Nathalie Emmanuel, Thomas Doherty, Stephanie Corneliussen e outros.

Estreia Nacional: 27 de outubro de 2022

NOTA: 5/10