Resenha do Filme Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
A história escolhe o luto como premissa, mas não sabe o que fazer com isso
A morte do ator Chadwick Boseman é um dos assuntos que ultrapassaram a barreira das bolhas culturais.
Por mais que os filmes de super-heróis sejam sucesso absoluto de popularidade entre o público, a verdade é que eles ainda pertencem a um nicho cultural específico, dos nerds.
Contudo, Pantera Negra (2018) foi um desses exemplos de explosão além do nicho. Indicado à sete categorias no Oscar, incluindo a de Melhor Filme, o longa se consolidou como um marco geracional da representatividade, que não era vista no cinema até aquele momento.
A morte do seu protagonista, um ator em ascensão, de fato, é um assunto que supera qualquer barreira cinematográfica.
Lembro que na época, em 2020, durante o isolamento social, soube da morte do ator e comentei com minha ex-namorada, que me perguntou de quem eu estava falando.
Mas, com a imensa repercussão do caso, ela acabou compreendendo que se tratava de uma perda imensa não só para a Marvel, mas pra Hollywood.
Chadwick era não só o rei de Wakanda, mas um guerreiro, e seu legado, ainda que breve, jamais será esquecido.
A Marvel, contudo, com a perda do ator, tinha um grande problema nas mãos: escolher seu substituto.
Antes do lançamento do primeiro filme, cogitava-se que o Michael B. Jordan fosse o escolhido para interpretar o Rei T’Challa.
No final das contas, o ator até participa do filme, mas como o antagonista da trama, Killmonger.
Com isso, a escolha óbvia para a sucessão do trono era a irmã do rei, Shuri (Letitia Wright), uma cientista e prodígio da nação.
Em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2022), vemos que o caminho escolhido pela Marvel foi, de fato, pela sucessão do manto do Pantera Negra para a irmã do rei. Essa decisão, contudo, é questionável.
Logo no começo do filme, que tem uma das aberturas mais emocionantes do Universo Cinematográfico Marvel (MCU), vemos Shuri desesperada para encontrar uma cura para a doença do irmão.
Em meio à inúmeras tentativas, a jovem acaba perdendo o momento em que o Rei T’Challa falece, sem poder dizer adeus ao rei e irmão (assim como nós, fãs do MCU, não pudemos nos despedir do Chadwick Boseman).
Fragilizada após a perda do rei, toda a nação de Wakanda precisa encontrar forças para seguir em frente.
Após um ano da morte do T’Challa, sua mãe, Ramonda (Angela Basset), se torna a rainha do país, tendo de lidar com a perseguição mundial em torno do vibranium presente no continente, já que o reino não tem mais o seu protetor.
Paralelo a esse cenário de desolação, temos um líder insurgente de uma nação submersa, o anti-herói Namor (Tenoch Huerta), que pretende preservar o vibranium do seu povo a qualquer custo.
Desde a primeira aparição do personagem, vemos que a população de seu país tem poderes especiais, sendo capazes de controlar outras pessoas através do canto.
E o próprio Namor é um ser mutante (o segundo do MCU, após a Kamala Khan), com super-força, velocidade e a capacidade de voar, graças às asas que possui nos pés.
A motivação de Namor é clara: proteger o seu reino, uma espécie de Atlântida (mas que no MCU fica no México), de todas as formas que forem possíveis, ainda que tenha que matar uma jovem de 19 anos, que ele considera como a sua principal ameaça, a Riri Williams (Dominique Thorne), também conhecida como Coração de Ferro.
A garota é uma jovem com inteligência acima da média, assim como a Shuri, e se assemelha ao Tony Stark na manipulação das tecnologias (nos quadrinhos, ela consegue recriar uma armadura do Homem de Ferro).
No filme, ela é a “ameaça” para a nação de Namor, já que ele acredita que ela seria convocada pelo governo para criar ferramentas capazes de localizar o vibranium de “Atlântida” e expor todo o reinado do povo submerso.
Há, ainda, no filme, a presença do Everett Ross (Martin Freeman), o “estranho no ninho” entre o povo de Wakanda desde o primeiro filme.
Aqui, ele contracena com a Condessa Valentina Allegra de la Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), em uma missão do governo para descobrir quem anda por trás dos ataques envolvendo vibranium em solo americano.
Com tantas subtramas dentro de um mesmo filme, a duração de 2h41min do filme encontra-se mais do que justificada.
Porém, é como se o longa metragem precisasse ter mais tempo para desenvolver tudo o que se propõe.
Novos personagens são apresentados, como acontece com a Aneka (Michaela Coel), uma jovem guerreira das Dora Milaje, há o retorno de personagens importantes, como a Nakia (Lupita Nyong’o), mas tudo isso funciona apenas como instrumento para empurrar a história para frente.
A escolha do luto como temática é uma escolha óbvia diante da morte do Chadwick Boseman, porém o filme não sabe o que fazer com isso.
A falta de um protagonista justifica a escolha pelos múltiplos núcleos, mas a única história que realmente importa, no final das contas, é a do antagonista.
A jornada de Shuri como sucessora do manto do Pantera Negra tenta ser construída em cima do luto, mas acaba se perdendo na falta de propósito.
A personagem não sabe como proceder enquanto líder, já que nunca teve que assumir o papel.
Porém, sua moral não é tão clara quanto a do T’Challa, o que até poderia gerar uma dubiedade em relação a sua personalidade.
Mas o filme desfaz esse conflito rapidamente, optando pela bondade acima de tudo.
Tecnicamente, a Marvel tem produzido séries com baixa qualidade visual (basta olhar o CGI de Mulher-Hulk).
No último filme do estúdio, Thor: Amor e Trovão, apesar de ter mais investimento em orçamento, a qualidade continuou duvidosa.
E aqui, apesar de ter momentos visualmente bonitos, o CGI também não agrada, principalmente nos momentos de combate com muitas pessoas.
E se você assistir ao filme em uma sessão 3D, existem cenas que são simplesmente impossíveis de enxergar.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre é um filme que não mancha o legado deixado pelo Chadwick Boseman, mas não merece o registro como uma das grandes produções do Marvel Studios, diferentemente de seu antecessor.
Não há, aqui, momentos memoráveis, e até mesmo o lema “Wakanda Forever” não possui o impacto narrativo (nem emocional).
Em meio à tantas tramas acontecendo ao mesmo tempo, o filme serve, apenas, como a história de origem do anti-herói Namor.
FICHA TÉCNICA
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
Título Original: Black Panter: Wakanda Forever
Duração: 2h41min
Direção: Ryan Coogler
Gênero: Ação/Aventura
Estrelando: Letitia Wright, Angela Basset, Danai Gurira, Martin Freeman e outros.
Estreia Nacional: 10 de novembro de 2022
NOTA: 5/10
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