Resenha do filme: Resistência(The Creator)
Humanos e robôs, espelhos um do outro
“Acredito que o desenvolvimento pleno da inteligência artificial poderia significar o fim da raça humana” (Stephen Hawking)

Filmes, documentários, séries e muitos outros meios de comunicação já discutem a interação do homem com a máquina há bastante tempo.
Basta voltar em 1927 com o filme Metrópolis do alemão Fritz Lang, ou em 1999 com um dos clássicos do cinema, Matrix dirigido pelas irmãs Lilly e Lana Wachowski, ou ainda em 2015 com a famosa série Black Mirror da Netflix.
Fato é que estas e muitas outras obras se tornaram um ícone dentro do universo cyberpunk, subgênero de ficção cientifica que se caracteriza pelo avanço da tecnologia e da precariedade da vida.
O potencial uso da inteligência artificial no entretenimento teve repercussões tão alarmantes que foi um dos motivos que originou uma das maiores greves de Hollywood.
Dentre as muitas reinvindicações, sindicatos dos atores e roteiristas paralisaram suas atividades, em prol de melhorias no ambiente do trabalho e medidas de segurança contra a IA.
O uso indiscriminado desta tecnologia pode baratear as produções, substituindo trabalhadores humanos por máquinas.

Resistência (The creator) é o novo filme de ação e ficção cientifica da Disney com direção de Gareth Edwards (Rogue One) que está sendo lançado neste contexto social de paralisação em Hollywood, e que vai debater exatamente a nossa realidade: até onde vai, ou pode ir à inteligência artificial?
O filme retrata um planeta futurístico que passa por uma guerra entre a raça humana e a inteligência artificial. Joshua (Washington) é um ex- agente das forças especiais que é recrutado para localizar e matar o Criador conhecido pelo nome de Nirmata que desenvolveu uma IA avançada, na forma de uma criança, que tem o poder de acabar com a guerra e com a humanidade.
A história gira em torno de Joshua e de sua fofa parceira de equipe Alfie (Madeleine Yuna Voyles).
E é nela que habita a mágica do filme, com um figurino, efeitos especiais e uma atuação delicada, de forma que ela não parece ser totalmente robô, mecanizada e sem vida, onde é representada em um aspecto ideal para que ao ser mostrado na tela consigamos nos afeiçoar e sentir suas emoções em algo feito basicamente de metal, parafusos e programação de códigos.

O filme brinca de forma muito inteligente com vários dilemas humanos sobre a sociedade e a sua relação com o poder, com a política, religião e suas interferências e relações mútuas com a inteligência artificial.
Em uma das cenas, é possível sentirmos a tristeza do funeral de um robô realizado por outros robôs.
Outro aspecto de imensa riqueza reside nas discussões filosóficas e éticas que sempre recaem na espécie humana. Será que a inteligência artificial é a real vilã de nossas vidas? Deveríamos mesmo criar algo tão parecido conosco?
Até onde existe humanidade nas inteligências artificiais? A inteligência artificial pode ter sentimentos próprios?
No filme, a guerra estabelecida retrata a tentativa de sobrevivência contra a opressão, discutindo a máxima de no fim, a raça humana sempre esta no topo da cadeia alimentar?
Somos e significamos o fim da existência de todos aqueles que se opuserem a nos.
Para investigarmos por um breve momento estas perguntas, nada melhor que trazer outro filme para dialogar. Em Matrix, as máquinas usam a Matrix, para controlar a humanidade e manter as pessoas presas em uma realidade simulada.
Esta dinâmica abordada nos traz uma crítica contundente ao nosso contexto, tendo em vista que ao longo do tempo nos tornamos e vamos nos tornar ainda mais dependentes das tecnologias em vários aspectos de nossas vidas: o social, processual, econômico, cultural, histórico.

Chegamos a um ponto que não tem mais volta, a IA é uma realidade, devemos aprender a conviver e a lidar com ela, controlando-as e as usando-as ao nosso favor.
Do contrário, se não tivermos este cuidado, de não romantizar o que não é romantizável, a criação devorará seu criador. Parafraseando o filósofo Nietzsche “… Quando se olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você”.
Voltando ao filme (Resistência), a dualidade entre o orgânico e o mecânico é a formula central do roteiro e fica incrementada com diálogos bem expositivos e profundos que não cansam quem o assiste.
Em uma das cenas, Alfie é perguntada sobre o que queria, e ela diz “… que os robôs sejam livres.” Ao dar consciência e humanidade a uma máquina o autor conecta ao público a obra com questões éticas sobre a guerra e como ela é devastadora para ambos os lados.
O roteiro fica marcado por alguns clichês e previsibilidades que são típicos de filmes deste gênero, não fugindo da normalidade esperada.
Ao longo do filme, o roteiro apresenta algumas ideias que parecem ser sem sentido quando analisados isoladamente, porém quando analisados conjuntamente possuem um embasamento para a sua presença, como quando um cachorro pega uma granada atirada contra a equipe de Joshua e Alfie e leva para fora jogando aos pés dos inimigos, ou quando um macaco pega um dispositivo de detonação aperta o botão e explode um tanque de guerra utilizado pelos humanos.
Quem mais, se não os animais que mais sofreram e ainda sofrem nas mãos da humanidade não colocaria um fim a uma guerra?(Se pudessem, lógico).

Todo este esforço é feito sob o “manto” de uma trilha sonora instrumental épica, feita pelo talentoso compositor Hans Zimmer (Interestelar), onde sua musicalidade fez presença em varias partes emocionantes e somadas à bela fotografia de Greig Fraser corroboraram para elevar a experiência do público em um universo singular e cativante.
Sobre o ponto de vista técnico, os efeitos visuais do filme não deixam a desejar, pelo contrário as cenas de ação possuem nitidez e efeitos especiais que fazem o espectador imergir em um cenário de guerra futurística.
Resistência (The Creator) tem uma história amarrada que se sustenta do inicio ao fim, e usa do gênero para tratar temáticas importantes com profundidade sem perder a diversão. Este é um daqueles filmes que estimula a reflexão ao mesmo tempo em que entretém, e às vezes até perturbam.
NOTA: 9/10
FICHA TÉCNICA:
Nome: Resistência
Título original: The Creator
Diretor: Gareth Edwards
Produção: Gareth Edwards e Chris Weitz
Duração:2h 13min
Gênero: Ficção Científica/Ação
Estrelando: John David Washington, Gemma Chan, ken Watanabe
Estreia Nacional: 28 de setembro de 2023
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