DUNA – CRÍTICA SEM SPOILERS
A primeira vez que eu escutei “Bohemian Rhapsody”, uma das músicas mais famosas da banda Queen, do lendário Freddie Mercury, meu pensamento imediato foi: “é sério que essa música tem mais de 6 minutos de duração?”. Na verdade, eu já achava um absurdo que qualquer música tivesse mais do que 3 minutos de duração.
Isso, porque eu sempre me recusava a escuta-la por inteiro, ouvindo somente o refrão e achando que era suficiente. E talvez a maioria das músicas funcionem dessa forma, apenas com um refrão marcante. Essa é a tendência hoje em dia, músicas que não duram mais do que dois minutos e viralizam no Tik Tok por seus refrões grudentos.
Porém, há uma razão para Bohemian Rhapsody ter essa duração. E ela é tão inexplicável quanto o sucesso de uma música de 6 minutos. Na verdade, sua origem é um mistério, já que Freddie Mercury nunca contou a sua motivação para escreve-la. Especula-se que ele queria homenagear a ex-namorada e melhor amiga, Mary Austin, mas nada confirmado.
O fato é que Bohemian Rhapsody é uma canção que fala sobre relacionamentos, e cada pessoa que a escuta tem uma percepção diferente e uma opinião formada de acordo com sua trajetória de vida.
Duna (2021), filme do diretor Denis Villeneuve, certamente é uma das obras que se propõem a serem grandiosas (literalmente). Se o livro em que o filme é adaptado possui mais de 600 páginas e várias continuações, o longa de Villeneuve já começa com um anúncio de “primeira parte”, demonstrando que, apesar das 02h30min de duração, a história não acaba por ali.
A história de Duna gira em torno de Paul Atreides (Timothée Chalamet), um jovem duque que tem sonhos premonitórios com uma garota (eu também queria sonhar com a Zendaya), poderes de persuasão usando a própria voz e que pode ser O Escolhido, o Menino que Sobreviveu, a Garota do Distrito 12, enfim, a típica história do protagonista predestinado.
Paul é filho de Leto (Oscar Isaac) e Jessica (Rebecca Ferguson), que viajam até o planeta Arrakis em busca de uma especiaria aparentemente muito valiosa para aquela população. No meio desse caminho, eles enfrentam minhocas gigantes e passam por muita areia (o nome Duna não é por acaso).
A construção do universo foi pensada de forma milimétrica, para manter a sua atenção fixa aos mínimos detalhes. Duna é um história que prende o espectador pela imersão que provoca. Se você aceitar embarcar nessa jornada, é capaz de sair da sala de cinema com os pés cheios de areia.
Em termos visuais, os efeitos especiais, toda a cinematografia, os planos e enquadramentos de câmera feitos pelo Villeneuve impõem o ar de grandiosidade que o filme pede. Das naves flutuando o céu de Arrakis até a simples menção ao movimento da areia, a experiência sensorial é quase completa.
A escolha do elenco é outro ponto forte de Duna. Timothée Chalamet é um talento nato, com todo o carisma que um protagonista de uma saga precisa para mantê-la viva por anos e anos. Ao seu lado temos a promessa da aparição de uma Zendaya mais atuante em uma possível continuação. A química entre os dois é muito forte, e você sente a tensão que existe ali, mesmo com o pouco tempo de cena.
Temos ainda a Rebecca Ferguson, o Oscar Isaac, o Jason Momoa, o Javier Barden, Josh Brolin, Dave Bautista, dentre muitas outras estrelas de Hollywood, que possuem o destaque na medida certa, sem roubar o protagonismo do Chalamet.
A trilha sonora de Hans Zimmer é mais um acerto do longa, que consegue ser enervante do começo ao fim, ditando o ritmo de todas as cenas, sejam elas de ação ou não. O registro desse novo universo distópico é marcado pela intensidade da música de Zimmer.
Duna requer paciência. Denis Villeneuve sabe, como ninguém, testar a paciência do público antes de apresentar o clímax da história. É claro que ele premia a sua audiência com um visual impecável em suas obras, mas é preciso ter muita tolerância. Pra quem não gosta de uma conclusão demorada, Duna pode ser uma eternidade para chegar ao seu desfecho.
O pior é que o filme, ainda por cima, é uma história incompleta. Na verdade, é dependente de uma continuação. E essa foi uma aposta arriscada do diretor Denis Villeneuve, pois o filme precisa ser um sucesso para garantir a parte dois, o que torna a experiência um tanto quanto desesperadora, pois queremos ver mais desse universo.
Depois de O Senhor dos Aneis e Harry Potter, Duna possui uma construção de universo tão fascinante que promete ser a nova franquia das próximas gerações. Tudo depende, porém, do seu sucesso, que requer paciência em uma indústria da instantaneidade.
Assim como Bohemian Rhapsody, Duna tem a duração certa para contar a história que precisa. Se vai se tornar um sucesso como a música do Queen, só o tempo dirá. Mas, se tudo der errado, talvez cortem o trecho da interação entre a Zendaya e o Chalamet e o utilizem em algum trailer de filme de super-heróis no futuro.
Nota: 9/10
FICHA TÉCNICA:
Título Original: Dune
Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Timothée Chalamet, Oscar Isaac, Rebecca Ferguson, Zendaya entre outros.
Duração: 155 minutos (2h e 35min)
Gênero: Ficção Científica/Aventura
Lançamento: 21 de outubro de 2021
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